quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Criatura de sonho




Tomada pelo gosto de pus que o ser deixou em meus lábios, me vou para a janela depois de trocar algumas palavras de desconfiança com minha mente e não obtendo nenhuma resposta volto para a cama e me deixo cair nela, meu vestido faz um leve movimento e também se faz cair na cama formando assim a boca de uma taça, mas só que negra. Fechados os olhos da criatura peguei na gaveta ao lado uma caneta de pena, a mais simples, e em cima da escrivaninha meu bloco de notas e rabisquei qualquer coisa que acabou formando um convite pretensioso, arranquei sem muito cuidado a página e joguei no chão na intenção de que fosse lido.Pegando a folha de papel sem cerimônia leu em voz alta com toda sutileza na voz rouca: “Que faça de meu corpo seu cálice sublime, aprecie cada gota como se fosse a última, toma-me, faça-se sentir embriagado e toma-me em tua musicalidade produtiva e asquerosa, porém de grande influência em meu desejo carnal. Represe minhas lágrimas em teu colo, e que elas matem tua fome, se alimente delas, e cesse-as até que fiquem mudas. Pois há uma dor, um manto negro que envolve meu coração, que devassa meu ser como a geada quebra as folhas desnutridas do inverno. Homem de roso encoberto pelas sombras, pelas mágoas da vida, faça-se ser meu nesta hora. Traga-me tuas palavras de grande poder fazendo-me engoli-las. Faça de mim tua. Tal como fui um dia.”E terminou dizendo: “Que assim seja!”.Sua primeira ação foi retirar de algum lugar um pequeno punhal perceptivelmente bem afiado, e pouco usado. Meu medo calado me fez virar as costas ainda deitada. A lâmina passava como um raio gelado por toda a nuca. Ele tomando total comando de meu corpo, apossando-se de minha mente. Ali já se podia sentir o cheiro do sangue que me escorria do pé da orelha pelo pescoço até que senti o gosto de sangue fresco em meus lábios. Se levantando e acendendo algumas velas pelo quarto não me impressionei, mas quando colocou algumas espalhadas pela janela me segurei para não dizer que isso poderia chamar a atenção de alguém. E calado me jogou um olhar de quem sabe o que faz e isso me fez intensificar a dor insensata que sentia. Inesperadamente soltou uma gargalhada seguida de algumas palavras assustadoras, mas que trouxeram a realidade do momento. “Sente-se na cama! Irei te dar o que merece...” Retirando o vestido e me sentando onde foi mandado ele bradou. “Não retire seu vestido mulher!””Me fiz estática enquanto a alça da roupa caia lentamente e ele a ajustava no lugar. “Não é assim que as coisas funcionam comigo. “Prefiro imagina-la desde o início.” Tomando posse de uma vela de chama alta, mantendo ainda na outra mão o punhal, começou a esparramar cera por seu braço com feição maliciosa.Depois de terminada a operação voltou a sua seriedade. O homem se pôs frente a mim de joelhos levantando a barra do vestido e abrindo minhas pernas sem nenhuma mudança de semblante. Mal me olhava o rosto. Retirou um guardanapo e umedeceu-o com saliva, colocou a lamina reluzente de lado, e esfregou o tecido entre minhas pernas, adentrando dois dedos suavemente em minha vulva. Apesar de ser visível que não era sua fonte de excitação maior. Não satisfeito me empurrou na cama e soltou um som, “Chi!”, puxando a meia calça para baixo dos joelhos e continuou me apertando as coxas. Já possuída pelo desejo da curiosidade e prazer fechei os olhos e me deixei levar enquanto ele frisava sua eloquência. O homem ajeitou meu vestido e entramos em um diálogo maçante que me fez quase adormecer. Em pouco tempo ele se fez sair pela porta sem se despedir. Com sua ida todo o meu cansado e puro otimismo fez-se ir embora a sua partida, me deixando em devaneios adormecida, rastejando entre um sonho e outro.



Akiw


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